quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E aí, você já deu um zig?

Calma, velho, um zig não é nada de obsceno! Mas pode significar várias coisas muito parecidas. Quer aprender a dar um zig? Então preste atenção ao significado da palavra.

Dar um zig é simples e fácil. Marque com seus amigos, com seu gato/gata, seus familiares, enfim, marque de encontrar qualquer pessoa em um lugar - e não vá! Ou então marque com alguém e desapareça do lugar (tem o mesmo efeito)! Ficou com um carinha na festa e percebeu que era barril? Fala que vai comprar uma água e não volta nunca mais! Pediu para te avisarem na hora de sair e não quer ir? Deixe o telefone tocar. Tá vendo? A coisa mais simples do mundo é dar um zig!

O zig é tão simples que, para ele, eu descobri até sinônimos. Em Pernambuco, por exemplo, "dar um zig" é o mesmo que "dar um pitú". Um amigo mineiro, mais elegante, disse que dar o zig é o mesmo que "sair à francesa". Prometo que vou pesquisar outros sinônimos - se não me derem o zig na resposta, claro!

Já dei vários zigs, assumo! Quem nunca o fez? É coisa de quem não sabe dizer "não, porque não e pronto", sem justificativa, sem razão ou sem argumento! Ok, em alguns casos é coisa de quem encontrou opção melhor e resolveu trocar sem avisar! hehehehe... Afinal, minha gente, o zig faz parte do direito de ir e vir!

Hum... Acabo de concluir que o zig foi legitimado pela nossa Constituição!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Meu Rei não existe!

Morando em outro Estado, nada me incomoda mais do que quando, ao afirmar que sou baiana, alguém me replica "Baiana? Ô, meu rei!"! Putz... de onde saiu esse pronome? Nunca ouvi ninguém falar "meu rei", e muito menos "minha rainha", como já inventaram! Rei é apenas e somente Rei!

Eu sempre explico, pacientemente, que não existe isso, sempre dou exemplos, mas não adianta! O povo não tira o "meu rei" da cabeça! Já pensei em fazer uma camiseta com o slogan "meu rei não existe!" ou em imprimir a minha explicação em um folheto, para distribuir e não ter que explicar tudo de novo. Mas não quero perder meu tempo com isso, quero que as pessoas se eduquem, nem que seja necessário fazer uma campanha em todo o país, tipo "vamos separar o 'meu' do 'rei'!!!".

Tenho certeza quase absoluta de que isso é culpa do incompetente profissional da Rede Globo que foi à Bahia colher expressões populares para alguma novela. Essa criatura, e talvez mais algum outro publicitário incompetente, que fez alguma campanha falada em baianês, não entenderam NADA e acabaram disseminando de forma equivocada um dos vocativos mais utilizados na Bahia!

Lá, a gente fala "E aí, rei, colé?!", ou "Vamo nessa, rei!", ou ainda "Ó, rei, vou lhe quebrar esse galho...". Se quiser, eu crio um diálogo inteiro aqui provando que não tem meu, nem seu, nem nosso rei! Até tentei criar aqui alguma frase com o pronome, para ver se eu tô errada, mas não sai, rei! Não fica nem bonito!!! E tem mais! No baianês, não existe gênero! Rei, bróder, velho, são todos substantivos comum de dois, ou seja, atendem ao masculino e ao feminino. Portanto, esse lance de rainha aí não tem nada a ver!

Aprenderam? Pois aprendam mais uma coisa, só pra finalizar: Baiano não perde tempo com sofisticações, muito pelo contrário! E, cá entre nós, que feio seria falar rainha, girl (guél, em baianês) e velha!!! Velha chega a ser ofensivo!!!! Ó, se alguém me chamar de velha eu vou me retar, viu?! Na moral...

Oxente, rapaz! Lá ele!

Baiano é bicho escroto. Soteropolitano ainda mais. Cariocas, os famosos malandros, tremei!

Se as brincadeiras com rima já movimentam o malicioso dialeto praticado na velha Salvador, imagine as perguntas que puxam respostas de duplo sentido? Quando você menos espera, acaba caindo em uma – Epa, lá ele!

Me saí dessa com habilidade, pois usei um antídoto infalível: o "Lá ele!" Se você está em Salvador, é só largar um "lá ele" que estará a salvo. Por quê? Quem cai, geralmente cai sentado em algo e isso é esparro (algo perigoso)...

A gente (às vezes isso soa como ‘arrente’, não estranhe) utiliza o recurso do “lá ele” pra dizer que outro otário cairia em nosso lugar. Algo do tipo: "Ele lá que caiu e não eu!”. Mas, como resposta, sempre acaba vindo de seu oponente um “aooooondeee?”. Esse outro significa “onde você viu isso, seu sacana?”. No final das contas a peteca pula de mão em mão e todo mundo se salva, ficando de cabra macho! E as meninas de santa.

“Quem é Mário?” – “Ora, ora... aquele que lhe carcou atrás do armário”. – “Oxente, rapaz? Lá ele!” A coisa funciona mais ou menos nesse diapasão. Tem até a forma mais direta: - "Onde eu coloco isso aqui?" - "Lá nele" - responde o mais esperto.

Outra função interessante para o “lá ele” é substituir nomes feios. Palavrões, se é que vocês me entendem (o que baiano adora. Aqui, porra é vírgula). Olhe quanta utilidade tem essas coisas que os malucos inventam em Salvador. Rapaz, isso que é cultura!

Mas aí o “lá ele” geralmente assume a forma feminina do “lá ela”! Isso porque a maioria dos palavrões mais pesados é feminina (lógico! Com elas ninguém pode! Por que você acha que nome de furacão é tudo de mulher?).

Exemplo: Tem nêgo que adora soltar um “desgraçaaaa” (afimaria, você disse aí, né?). Pois bem. A maioria da turma que não suporta este palavrete que costuma aliviar a alma dos mais desesperados – aqueles que estão na bruxa – abusam do “lá ela” para não pecar:

“Joãozinho chegou aqui, na bruxa, dizendo 'lá ela' na maior altura. Avemaria! Creimdeuspai, Deuzépai!”. É comum conferir essa variação do “lá ela” da boca de religiosos.

Mas, o mais engraçado foi o que as meninas inventaram para chamar a própria bacurinha. Isso mesmo! Já tá dando risada? Tem umas meninotas de Salvador que, para evitar o nome próprio mais conhecido daquilo, usam o “lá ela”.

- “Menina........ o carinha estava tão doido que, quando a gente estava naquele amasso, passou a mão em minha ‘lá ela’”.... Meu Deus... onde isso vai parar?

O “Lá ele” e suas variações também já fizeram tanta fama, e ajudaram tanta gente na Boa Terra, que viraram nome de livro! É sério! Procure por “Lá ele – o esparro a Bahia”, de João Jorge Amado. Tive a oportunidade de bisoiar algumas páginas, que oferecem uma revisão dos maiores esparros, aqueles que exigem 'de com força' um bom "lá ele!". Ô mo pai...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pense num absurdo! Na Bahia há precedentes!

Essa frase é de Octávio Mangabeira, que foi governador do Estado muitos e muitos anos antes de eu nascer! Mas eu sempre me pego pensando em como ele estaria se sentindo se visse como a terra dele progrediu! Tanto que hoje há estudos antropológicos sobre o povo baiano! É, tá pensando? Pra entender essa galera é preciso muita ciência, rapaz!

O que eu não sei é se já realizaram estudos sobre a língua que se fala na Bahia. Volta e meia eu preciso saber de onde vem alguma coisa mas acho que nem Dona Canô poderia explicar! Acho que Cid Teixeira nunca vai descobrir! Mas me proponho a fazer algumas tentativas de vez em quando!

Vamos ver um exemplo, ou melhor, dois: "é vem" e "é vai". Sabe o que significam? Faz alguma idéia? É facinho, basta trocar o "é" por "lá" e está feita a tradução, com a pequena sutileza de que o "é vai" não se usa só quando a pessoa vai, mas também quando a pessoa vem! Entendeu? É simples, coloca numa frase! "É vem Judenilson com essas brincadêra besta!" ou "É vai esse minino pertubá!" - não, não é erro de grafia, baiano fala assim mesmo! Mas isso é assunto para um novo post!

"É vem" e "É vai" também funcionam sozinhos, como interjeição. Por exemplo, se você está sentado e alguém começa a se aproximar com uma conversinha mole, você pode pensar "é vem!". Ou se você está numa festa e aquele amigo mala começa a se exibir depois de tomar uns goró, você pode reclamar "é vai!". Em ambos os casos, se quiser enfatizar, pode complementar com um sonoro " essa miséra" e vai ter o mesmo efeito!!

Agora eu queria entender como alguém trocou o "lá" por "é" se eles não tem nada a ver, nem a mesma função gramatical! Quem foi o assassino da língua portuguesa a cometer esse crime e quem foram os seus primeiros cúmplices, que acobertaram essa tragédia? Bom, hoje nem é mais tragédia, com o tempo a expressão subiu de categoria e agora isso é peculiaridade!

Essa é uma dúvida que vou cultivar eternamente, assim como tantas outras que, mais cedo ou mais tarde, eu vou mencionar aqui. Mas com certeza, assim como eu, você aí já deve estar entendendo por que a Bahia é a terra dos mistérios, hein?!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tá na bruxa, negão?!


Desde que saí da Bahia, nada me faz tanta falta quanto o bom e velho baianês. Nem o acarajé de Do Carmo, no Brotascenter, ou sorvete da Perini me fazem sentir tanta saudade daquela terra quanto o próprio dialeto baiano, que a gente escuta na rua, no elevador, na rádio, em qualquer lugar!

Salvador está impregnada por um idioma paralelo ao português, rapaz! Vá passear em Angola e, com certeza, vai ser mais fácil entender o português que eles usam lá! A cada dia surgem termos e expressões novos, para facilitar a compreensão das coisas. E na Bahia, ainda há um agravante: a coisa evolui muito rápido, na velocidade de um pagode do Psirico! É tão rápido que, se você passar muito tempo fora, corre o risco de precisar fazer, no mínimo, um cursinho de atualização!

Na última vez que estive lá, por exemplo, aprendi o "na bruxa". Tá na bruxa? Vá saber! Foi difícil descobrir se era uma coisa boa ou ruim! "Tô na bruxa pra ver o jogo!!"... Pô, e aí, tá querendo ver ou não?! "Fulano não sai de tal lugar... tá na bruxa!". Ele tá lá porque quer ou foi obrigado? Aí, depois de assimilar a expressão no inconsciente, a gente descobre que quando a pessoa tá na bruxa, ela tá no desespero, tá abafada, tá ansiosa, tá agoniada... Ah! Tá na bruxa e pronto!!

Eu tava na bruxa pra escrever um texto pra esse blog, até que pensei "Pô, tô tão na bruxa que vou escrever logo sobre essa zorra!". Agora tô na bruxa pra voltar pra Salvador, tô na bruxa comer um acarajé que me prometeram... Só não descobri ainda o que acontece quando o problema acaba. A bruxa morre? A pessoa sai da bruxa? A bruxa acaba? Ainda não sei bem como lidar com esse substantivo! Calma, tô aprendendo...

E como tudo na Bahia, logo logo vão criar um verbo e um adjetivo, quer apostar quanto? Mas, antes disso, já aconteceu o principal, a maior prova de que o "na bruxa" veio pra ficar: o termo já virou música - mais um clássico, se preparem! "Tá na bruxa, negão! Tá na bruxa, negão!" - é ou não é uma pérola, velho?!

É por isso que eu digo: esse baianês é apaixonante!

Tudo é grande em Itives

Desafio outras cidades do Brasil a provarem que têm um dialeto popular mais engraçado que Salvador! Já comecei na dividida, mas é sério... Se tiver, me mudo pra lá agora mesmo. Afinal, o que importa é se divertir.

Até para quem nasceu, mora ou passa uns tempos por aqui, é uma novidade a cada dia. E são pérolas que você aprende a soltar pra dar risada de si mesmo. É cômico demais!

Você já veio à Bahia? Já passou um carnaval em Salvador? Já percebeu que "meu rei" é coisa do passado, né? As coisas avançaram por aqui, meu pai. Afinal, a criatividade rola solta entre as cidades Baixa e Alta com um Elevador Lacerda no meio.

Um bom exemplo é o fato de que boa parte da população, a maioria homens que não têm muito o que fazer, costuma brincar com rimas. A idéia é sacanear o amigo que despreza as consequências de soltar algo terminado em "u", "ão" e variações (a maioria das mulheres odeia essa brincadeira).

Não estranhe ao ouvir um sacana (sim, todo mundo aqui tem esse apelido, até você, seu sacana) dizer "Acabei de chegar de Itives, aquela cidade de São Paulo onde tudo é grande". O "ives" é o antídoto. Se você não usar, vai dizer "cheguei de Itu" e ouvir de lá um "iiiiiiiiiihhhhh", que na verdade significa "vai tomar no c...".

Parece meio bobo - ainda mais para as mulheres - e realmente é muito bobo. Mas a graça não está em dizer isso (às vezes sim). E sim em perceber como a coisa está séria pelas ruas de Salvador!

Exemplo? Dia desses eu estava pronto para fazer o pedido numa lanchonete. Antes de mim, um sujeito com cara de intelectual e poucos amigos fez o seu. "O que tem aí para lanchar?".

Qual não foi minha surpresa ao ouvir do figura, funcionário da birosca, com seu bonezinho com a marca da lanchonete e de bigodinho feito. "Patrão, tem coxinha, quibe, hot dog e BAURIVES".

Velho... (você pode não ser velho, mas é um pronome de tratamento aqui pra todo mundo, meu velho) tentei segurar a risada, sem acreditar que o cara já tinha incorporado aquilo à sua maneira de responder aos clientes, na maior cara de pau.

Mas aí veio a sequência (o cliente enfezou ainda mais a cara, de poucos amigos, mostrando que tinha desaprovado totalmente o atendimento, e isso me deu mais vontade de rir):

"Rum... e pra beber?". Aí fudeu: "Patrão, tem suco de abacaxi, manga, laranja e CAJIVES". Eu não aguentei e larguei a gargalhada. Me afastei um pouco, lógico. O cliente continuou com cara de bunda, mas pagou o lanche. E o carinha já estava pronto para vender outros "Baurives" para a clientela, se divertindo com suas próprias piadas.

Pelo menos a turma aqui se diverte até no dia-a-dia corrido...

Em breve, histórias de buzives.