quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Oxente, rapaz! Lá ele!

Baiano é bicho escroto. Soteropolitano ainda mais. Cariocas, os famosos malandros, tremei!

Se as brincadeiras com rima já movimentam o malicioso dialeto praticado na velha Salvador, imagine as perguntas que puxam respostas de duplo sentido? Quando você menos espera, acaba caindo em uma – Epa, lá ele!

Me saí dessa com habilidade, pois usei um antídoto infalível: o "Lá ele!" Se você está em Salvador, é só largar um "lá ele" que estará a salvo. Por quê? Quem cai, geralmente cai sentado em algo e isso é esparro (algo perigoso)...

A gente (às vezes isso soa como ‘arrente’, não estranhe) utiliza o recurso do “lá ele” pra dizer que outro otário cairia em nosso lugar. Algo do tipo: "Ele lá que caiu e não eu!”. Mas, como resposta, sempre acaba vindo de seu oponente um “aooooondeee?”. Esse outro significa “onde você viu isso, seu sacana?”. No final das contas a peteca pula de mão em mão e todo mundo se salva, ficando de cabra macho! E as meninas de santa.

“Quem é Mário?” – “Ora, ora... aquele que lhe carcou atrás do armário”. – “Oxente, rapaz? Lá ele!” A coisa funciona mais ou menos nesse diapasão. Tem até a forma mais direta: - "Onde eu coloco isso aqui?" - "Lá nele" - responde o mais esperto.

Outra função interessante para o “lá ele” é substituir nomes feios. Palavrões, se é que vocês me entendem (o que baiano adora. Aqui, porra é vírgula). Olhe quanta utilidade tem essas coisas que os malucos inventam em Salvador. Rapaz, isso que é cultura!

Mas aí o “lá ele” geralmente assume a forma feminina do “lá ela”! Isso porque a maioria dos palavrões mais pesados é feminina (lógico! Com elas ninguém pode! Por que você acha que nome de furacão é tudo de mulher?).

Exemplo: Tem nêgo que adora soltar um “desgraçaaaa” (afimaria, você disse aí, né?). Pois bem. A maioria da turma que não suporta este palavrete que costuma aliviar a alma dos mais desesperados – aqueles que estão na bruxa – abusam do “lá ela” para não pecar:

“Joãozinho chegou aqui, na bruxa, dizendo 'lá ela' na maior altura. Avemaria! Creimdeuspai, Deuzépai!”. É comum conferir essa variação do “lá ela” da boca de religiosos.

Mas, o mais engraçado foi o que as meninas inventaram para chamar a própria bacurinha. Isso mesmo! Já tá dando risada? Tem umas meninotas de Salvador que, para evitar o nome próprio mais conhecido daquilo, usam o “lá ela”.

- “Menina........ o carinha estava tão doido que, quando a gente estava naquele amasso, passou a mão em minha ‘lá ela’”.... Meu Deus... onde isso vai parar?

O “Lá ele” e suas variações também já fizeram tanta fama, e ajudaram tanta gente na Boa Terra, que viraram nome de livro! É sério! Procure por “Lá ele – o esparro a Bahia”, de João Jorge Amado. Tive a oportunidade de bisoiar algumas páginas, que oferecem uma revisão dos maiores esparros, aqueles que exigem 'de com força' um bom "lá ele!". Ô mo pai...

2 comentários:

Wagner Ferreira disse...

Certamente depois dessa pensarei duas vezes antes de passar a mão em certas "lá elas", Deus é mais, hehe!

Unknown disse...

gente acabo descobrir seu blogger e to apaixonada vivo na europa e souu nascidana liberdade em salvador aivc me fez ganhar meu dia e como estivesse mas perto da minha terra e fora que nparo de rir! obriagada por textos tao legais falando do meu povo.um xero!