Eu morava no Rio de Janeiro em 1992. Foi a primeira vez que deixei Salvador para morar em outra cidade. E foi lá que percebi o quanto é difícil entender 80% do que um nativo da capital baiana fala. Isso se o cara for daqueles que exploram ao máximo o vocabulário baianês e, ainda por cima, falar rápido.
Muitas vezes tive que decifrar o que eu mesmo dizia. A primeira vez foi quando Geraldo, um grande amigo que fiz na escola, estava lá em casa. Quando ele se meteu a mexer em algo que não lembro o que era, mas não devia naquela hora, eu disse: "Não bula nessa porra não, rapaz". - Hein? não bula? O que é isso, moleque?, respondeu o Geraldo (isso mesmo.. "o" Geraldo.. aqui a gente não usa esse artigo não, viu).
- Ora... não bula... to dizendo pra você não bulir, seu sacana.
Foi aí que percebi... "não bula"... "não bulir"... rapaz.... que verbo escroto é esse? Quando expliquei a Geraldo que era pra ele não mexer, o cara se embolou de rir. E ainda me fez conjugar o verbo. O fiz com a maior calma didática. "Eu bulo, tu boles, ele bole, nós bulimos, vós buleis, eles bolem". Esses cariocas não estudam não, é? Bulir é mexer!
Cortei a brincadeira de Geraldo e peguei a bola de futebol. Morava no Leme e costumava bater uma bolinha na praia todos os dias, depois da escola. "Velho, deixe de onda.... Vamos bater esse baba na praia".
- Bater o que, moleque? Repete aí...
- Ihhhhhh, colé rapaz! Bater o baba, porra. Jogar bola, miséra...
- hahahahahahahah
Geraldo tava afim de me sacanear mesmo. Flamenguista sacana. Ainda bem que esse ano meu Vitória ganhou no Maracanã e empatou no Barradão. Me deve uma, rei!
Expliquei que a gente ia jogar "uma pelada", no bom carioquês. E até li algo sobre a origem do baba, anos depois. Parece que a turma sem muita grana de Salvador fazia bolas revestidas com baba de boi, para dar consistência à coisa. Como a baba rolava solta, ficou a expressão "bater o baba". Eca!
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Um comentário:
Vc esqueceu daqueles que se bolem.
"fulano anda todo se bulino". Quem anda se mexeno, como quem tá eternamente com o rabo coçano (gerúndio é sem o "D" do final mesmo).
Em espanhol existe semelhante, mas especifico para as bixinhas quá quá quá. Lá é Culo Pato, p/ quem anda bulino o rabo feito um patinho.
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