domingo, 14 de dezembro de 2008

É viola, mermão!

Na minha época de guri a gente brigava muito entre amigos. Dizem que é a melhor escola pra aprender a sair na mão com alguém. Geralmente quando dois neguinho se estranhavam, outro mais velho colocava a mão na frente dos dois e dizia:

- Quem cuspir aqui, primeiro, ganha (e tirava a mão na hora das cusparadas).

Aí era um "Deus nos acuda". Quando os dois já estavam pra se matar, alguém separava. Depois era a resenha pra saber quem ganhou.

Mas hoje em dia a coisa tá braba. Rolou o primeiro tapa e a gente já ouve também o primeiro tiro. Creimdeuspai.

Por isso é bom tá ligado nos primeiros sinais de porrada quando você estiver em Salvador. Se não souber jogar uma boa capoeira ou não tiver gás pra abrir no primeiro pipoco de bala, se pique.

O primeiro sinal é quando você ouvir um cara retado falar pro outro:

- Colé de merma, mermão?

Aí vale uma reflexão. Como é que os caras chegaram a essa expressão indecifrável? Vamos desconstruir?

"Colé" = Qual é (abreviado e distorcido, pra dar um ar de tensão e brabeza)
"de merma" - (começou com meu irmão... tipo "Qual é a sua mesmo, meu irmão?"... Aí "mermão" e "mesma" virou "merma" e você já sabe no que deu)
E o outro "mermão" no final é só pra ressaltar

Aí, mermão, pode ter certeza que o pau vai comer. Se você não estiver na hora da porrada, vai saber que rolou "viola" quando chegar alguém e disser que "rolou o maior pau" no outro lado da rua.

E como na Bahia todo samba de roda com uma viola fica mais gostoso, o adicional "viola" significa que a briga foi das boas. Daquelas com direito a voadora estilo Chuck Norris, garrafada e cadeirada. "Rolou o maior pau viola no bar, véi!".

Outro bom sinal de que o pau vai comer (lá ele) é o "vai inchar", que pode vir acompanhado do famoso porra. Aí dá pra sacar né? O que acontece quando alguma coisa incha demais? Geralmente EXPLODE. "A porra vai inchar, véi... Bora sair daqui"... Pode ter certeza que em segundos a porrada vai ser generalizada.

Por fim, seguindo a lógica da porra inchada, vem o "barril" (de pólvora, claro!!). Todo barril de pólvora tem que explodir, senão não tem graça. E aí, brother, quando seu amigo disser que "é barril" aquele bar estranho que você viu, já bêbo, e tá afim de tomar a saideira, se saia. Se saia. É bem provável que ao primeiro gole de cerveja você tome um "pedala Robinho" só porque o maluco da mesa ao lado não foi com sua cara.

Se ligue, mermão! Senão o negócio pega pro seu lado, tá ligado?

[Em tempo... agradeço aos parabéns da Autora. Após certa idade a gente para de comemorar, mas tudo bem, heheh. Thanks!]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Aniversário? Aêêêêêêêêê!!

Hoje nosso querido Autor completa mais um ano de vida!!! Quantos??? Melhor não entregar, né?! Pode pegar mal, e ele acabar "se queimando"! Hehehehe...

Bom, em homenagem à data, fui fazer minha pesquisa cultural-regional e descobri que apenas na Bahia é que se canta aquele trecho do Parabéns "que Deus lhe dê...", sabia?! Pois é, claro que lá tinha que ser diferente! Deve ser fruto da religiosidade marcante do baiano, que dá um jeitinho de colocar Deus em qualquer coisa!

E por falar em religião, na próxima segunda é feriado em Salvador, dia de Nossa Senhora da Conceição. Lá vem lavagem da igreja, "come água" na Cidade Baixa... Que época excelente para fazer aniversário, né, rapaz? E hoje ainda tem último capítulo da série "Ó Pái Ó"!!

Desejo ao nosso querido Autor que aproveite bastante essa sexta-feira, que curta demais esse feriadão e que faça da jaca a sua pantufa!!

Um beijo grande, Parceiro (tem gíria mais carioca que essa?!)!!! Felicidades pra você!!!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Já fuuuuuuui!

Hoje eu passei o dia respondendo às pessoas com frases esquisitas, tipo essa aí do título. Ninguém entende nada, claro. Aí eu resolvi explicar de onde surgem essas frases e, vejam só que "coincidência", saem todas da música baiana! Por que será?

O "já fui, banda mel" é o mais engraçado. A extinta Banda Mel, sucesso quando eu era guria e quando Luiz Caldas e Sarajane estavam no auge, gravou uma música chamada "E lá vou eu!". Bacaninha a música, uma letra interessante, de protesto, coisa e tal. No final dela, depois de repetir mil vezes "e lá vou eeeeeeeeeu" o carinha que cantava (era 1 homem e 2 mulheres) larga um sonoro "já fui!!!!". Pronto, inverteram a coisa toda, e surgiu o famoso "já fui, banda mel!"!

No mesmo caminho, surgiram outras expressões. Cansei de ver alguém tentando ajudar um amigo a se conformar com as coisas e dizendo "A vida é assim... o Terrasamba é assim, swing swing pra você e pra mim!". Essa vai na carona de uma música do Terrasamba, aquela banda de pagode que tinha um vocalista baixinho e troncudinho!

Outra coisa que virou lugar-comum é alguém perguntar "E aí?!" e ouvir de resposta um sonoro "chupa tooooooooda!". Na moral, ouve porque quer, né?! A resposta é automática! "Segure seu tchan" também se usa e é herança da música que lançou Carla Perez no mundo (onde ela não existia! hahahaha!) e todo mundo fala isso quando as moças estão meio abafadinhas!!! É uma boa recomendação!!!

Recentemente, claro, tem o "não me conte seus problemas", que já era usado há 10 anos atrás, quando eu ainda estudava na UNEB, mas ganhou reforço depois que Ivete gravou - porque tudo que Ivete inventa, agora vira moda! Tsc tsc! Também tem o "não me chame não, viu?! não me chame não que eu vou", o grande "sucesso" dos Kamaradas, que meus ex-estagiários falam cantando, do jeitinho que tá na música, e a frase filosófica "cada cabeça, cada um... cada um, cada seu mundo" que eu prefiro nem conhecer a autoria!

Rapaz, tá explicado porque a música baiana faz tanto sucesso dentro do Estado! Ela ajuda a elaborar e a enfatiotar o dialeto!! Como ninguém percebeu isso antes?

Enfim, tem mais um monte de frases de músicas sendo utilizadas por aí. Mas tá tarde, quero ir pra casa comer, ver novela e procurar clipes baianos no You Tube, pra matar a minha saudade... Ó, já fui, banda mel!!!!!!!!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Aprenda a falar direito.

Eu tava refletindo aqui, em pleno horário de trabalho, sobre as palavras que não fazem parte do baianês mas que saem diariamente da boca do baiano. São coisas engraçadas, apesar de absurdas, e por serem tão características acho que vale a pena citar aqui. Veja os piores casos:

- "Namuscada": é aquele condimento que se usa para cozinhar, conhecido em bom português como "noz moscada". Não sei se o sabor é o mesmo mas a pronúncia...
- "Quer nizer": versão da expressão "quer dizer". Desde que consegui parar de rir após ouvir essa maluquice, eu me pergunto o que significa 'nizer' na cabeça de quem fala isso!
- "Cagado e cuspido": é aquela pessoa muito parecida com outra. Só que no resto do país, se diz "encarnado e esculpido". Bobagem, nem dá pra notar a diferença, né?!
- "Minduís": é o amendoim que nasce na Bahia.
- "Ondibinho": acredite, é o diminutivo de ônibus! Eu falaria onibusinho mas talvez eu esteja errada!
- "Ondibus": advinha?!
- "Tirar as genitais": esse foi extraído da TV local, em um programa popular. Você já tirou as genitais de alguém? E as suas? Bom, mas as "digitais" com certeza tirou, né?!
- "Morródia": não sei é erro de português ou erro médico! Mas também se chama hemorróida.
- "Cunzinha": pare de pensar em sacanagem! Cunzinha e cozinha são a mesma coisa!
- "Menas": é quando o baiano tem "menas dor" ou "menas condições", ou "menas possibilidades" de aprender a falar direito, etc...

Há casos que são específicos, claro! Baiano falando inglês, por exemplo, é uma tragédia! O que tem de Mary sendo chamada de Meire e girl que virou guél não dá pra contar... E a frase "I don't have money" já faz tempo que virou "I'm not have money". Isso além das adaptações como Brocation, Aperriation, Esculhambation e qualquer outro ation que você quiser inventar!

Nos órgãos públicos é uma pedrada atrás da outra. CPF que virou CPS, registro que virou resistro e o fato de que ninguém mais resolve problemas - resolve problemáticas! Na Caixa Econômica, os imóveis são financiados pelo sistema de "habilitação" e a velhinha idosa insiste em sacar seu dinheiro no balcão porque na máquina (caixa eletrônico) só tem "célula" de R$50,00.

Bom, enquanto não houver solucionática para essa situação, só nos resta mesmo anotar e resistrar essas péloras da língua baiana! Rezano, é claro, para que não tenhamos uma grave complication nas próximas gerações!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

panhou, picou e brocou!

São sete e meia da matina. O bróter chega à mesa para tomar o café da manhã e vê o pai a ler o jornal. Curioso sobre a barulheira que ouviu ecoar da casa ao lado, na noite anterior, pergunta ao velho...

- Bom dia, mô pai. Que putaria foi aquela de noite? Rapaz... Só num levantei pra ver porque tava com um sono da miséra...
- Rum... briga dos vizinho maluco aí...
- Rapaz..... e aí?
- Porra... o negão aí do lado pegou a mulé e brocou... panhou pelos cabêlo e picou lá porra....
- Êta porra! Vai parar no Bocão...

A situação me veio à mente depois que vi, ontem, um quadro na TV (Bocão) que mostrava brigas de vizinhos.

Bom... Ouvindo um jogo pelo radinho, dia desses, na hora do gol, veio o narrador e gritou:

- brocoooou!

E aí... Qual a semelhança entre meter a porra na fuça da mulher e o atacante meter a bola pro fundo da rede? Bom... se as duas coisas forem consumadas com um chute bem dado, pode até ter... Mas digamos que foi com a mão aberta, daquelas que fazem o sonoro "plah"!

Bom... é que "brocar", no bom soteropolitanês, significa dispendiar muita energia e conseguir uma coisa boa com isso. Ou seja, se "brocar" é como espancar a mulher que merecia umas porradas (pra quem aprecia... eu não gosto disso) - ou chutar forte a bola e fazer um golaço no rival - "brocar" é também passar no concurso da Petrobrás, por exemplo.

- Juninho estudou o ano todo e brocou na prova. Agora vai ganhar bem sem medo de ser demitido!

E o que o pai do bróter quis dizer com "panhou"? É certo que a muié apanhou do marido com dor de corno e chegou à Delegacia toda ronxa (roxa). Mas panhar, na verdade, é o mesmo que pegar, puxar e afins. Mas como o dialeto local é mais versátil impossível, observe:

- Liga logo o carro, porra!
- To tentano! To tentano, rapaz!
- Ó os homi chegando, véi! Vaaai!!! Panha! Panha!

Isso mesmo. Se você um dia estiver passeando pela Avenida Peixe, em Salvador, conhecida por sua tranquilidade e índices de criminalidade zero, deverá ouvir um diálogo do tipo. Ou seja, "panhar" também signifca "se pica, porra!", "pisa no acelerador até o lastro!" e por aí vai.

Por fim, resta esclarecer que o negão corno, que esbagaçou a mulher no cacete, não se trata do mosquito da dengue por ter picado a porra na coitada. E aí que está um aspecto complicado no baianês de Salvador.

"Se picar" é uma coisa. "Picar" é outra! Por incrível que pareça, quando você se pica, quer dizer que você se mandou, evaporou, partiu a mil (km/h).

E quando você pica (sem conotações sexuais), quer dizer que rumou ou bateu algo. O negão, na verdade, meteu a broca na mulher, bateu nela, picou lá porra. Paf!!!! De mão aberta. - Vaaaaaiii misééééraaaaaa!

Bom... eu tava devendo posts... panhei o teclado de jeito, piquei a porra no texto e broquei de com força com três novidades de se fuder (em homenagem ao nosso leitor Oh, que adora o "se" do "de se fuder").

Mais uma do Judenilson (para Oh)

Olá caros leitores, há quanto tempo! De hoooooje que não aparece nenhuma postagem nova aqui, né? Relevem, na moral! É a correria mesmo, os autores deste blog andam caindo pelas tabelas de tanto cansaço... E à noite, só sobra tempo pro You Tube e para longas conversas no msn.

Hoje sobrou um tempinho e a coisa fluiu. Por isso, resolvi atender a um pedido de um dos leitores desta publicação. Ele solicitou um post sobre a expressão "lascando em banda" e, depois de muito elocubrar (eita palavra chique da porra, hoje eu tô cheia de guéri-guéri!), concluí que isso é quase um desafio! E quem não gosta de desafios, né? Bora lá!

"Lascando em banda" pode dar margem a váááárias interpretações. Originalmente, e obviamente, é uma expressão de conotação sexual (conotação? pô, hoje eu tô brocando!). Veja o exemplo, na conversa de Judenilson - o pai - com seu bróder Uóston:

- Nilsinho, véi, venha cá, é verdade que Marinalva tá se fretano pro seu lado?
- Fique na sua, muzenza!
- Rapazzz, se Meire descobre uma porra dessa, ó você arrombado?!
- Ô, Uóston, e você acha que com um mulherão daquele me dano ozadia, eu vou me sair por causa de Meire? Eu vou é pegá aquela mulé e lascar em banda, véi!
- Mas rapaz... Ó paísso... Quem vai se lascar é você, sô sacana!

Como se pode perceber, essa falta de cavalheirismo de Judenilson é, também, uma forma de dizer que ele vai pegar Marinalva e fazer todo tipo de sodomia, safadeza e discaração, sem medo de ser feliz! Vai se fartar com a criatura, vai tirar o atraso, até onde aguentar (ele ou ela?)! Ele quer dizer, no fundo, que vai partir a criatura em duas, você sabe como e você sabe onde... Misericórdia!

Essa mesma expressão também pode ser usada para substituir outros palavrões, com mais ênfase na intensidade da coisa toda! Entendeu? Então veja mais um exemplo. Judenilson é Bahia, e seu time vai enfrentar o Vitória, de Uóston. Ainda do lado de fora do Barradão, no isopor de Tia Nice, os dois se encontram, se cumprimentam, e Uóston só diz uma coisa, olhando pra cara de Judenilson enquanto aperta sua mão:

- Eita que hoje o Vitória já vai entrar lascando em banda...

Ao que Judenilson responde (antes de correr de uma porrada do policial):

- Bora Baêa, minha porraaaaaaa!

O que Uóston quis dizer foi que, "com sangue nos olhos", o Vitória ia pegar o time adversário e fazer um estrago, meter vários gols e desmoralizar a sua torcida. Ou seja, lascar em banda também significa arrasar, entrar com tudo, sem dó nem piedade, acabando com a raça do adversário ou oponente. Em analogia ao exemplo anterior (analogia também foi massa!), pode-se dizer que Uóston deseja ver o rubro-negro rachar o tricolor no meio! Creimdeuspai!

Por fim, lascando em banda pode ser sinônimo para qualquer coisa que deu em merda ou, de um modo geral, um bom substituto para o nosso velho conhecido, o "fudeu"! Se Uóston avisar a Judenilson que Meire descobriu o frete dele com Marinalva, para quem a própria Meire arranjou uma vaga de cordeira no Tiete Vips, durante o carnaval passado, ele só vai poder dizer uma coisa:

- Putaqueopariu, agora lascou em banda a porra todaaaaa!

Afimaria!!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nota

Em complemento à postagem abaixo, preciso fazer duas observações:

- "Rumá-la porra", em português formal, se escreve "Rumar-lhe a porra". Esqueci de esclarecer.

- Um termo equivalente para "rumá-la porra", e também muito utilizado por meus conterrâneos, é "rumá-la disgraça". Esse é o cúmulo, o auge, a ultrapassagem do limite da paciência. É usado quando nem o porra surte mais efeito!

Sem mais... até o próximo post!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Rumano coisa pra tudo que é lado!

Esse é melhor explicar com um exemplo!

Meire chega em casa e vê seus filhinhos, Judenilson Junior e Suellen, quebrando o maior pau em casa. Já estressada depois de passar o dia graxeirando e ainda ter enfrentado um buzão lotado até Cajazeiras XI, a mulher vem gritando:

- Que poooooooorra é essa aqui? Tão chorano por que? Bora logo, pode começano porque hoje eu num tô boa... e se num falarem, dou uma surra e num instante vocês vão tê motivo de sobra pra abrir o berreiro!
- Hum.. foi Juninho, mainha! Só porque eu comi o nêgo-bom dele, ele rumô a merendeira na minha cabeça!
-O que, Juninho? Qué matá sua irmã, é, seu porra?! Qué vê uma disgraça aqui, é?!
- Eitá, mainha, né nada disso! Suellen que comeu meu nêgo-bom e era o último! Mas eu num rumei a merendeira na cabeça dela por isso não, eu rumei porque ela ficô dano risada.. hum... E disse que ia te enrolá, pra você me dá uma surra... hum... falo mermo!
- Né nada disso, mainha, ele rumô sim, e tem mai... - Meire interrompeu!
- Num tem mais nem meio mais! Tão os dois errados! Você, sinha burra, porque comeu a porra do doce do seu irmão! E você, seu sacana, porque rumô a merendeira na menina!
- Mas mainha, ele rumô!
- Cala a boca! Quem vai rumá-la porra agora sou eu!!!

Como é possível notar, há uma palavra dominante nesta discussão - rumar (ou rumá, em bom baianês, sem o R). Se você for no Aurélio ou no Houaiss, vai descobrir que rumar é uma ação que faz referência ao sentido que navios e embarcações tomam, tipo "Rumou para o norte". Mas na Bahia, rumar é arremessar, atirar alguma coisa em alguém! "Rumô a merendeira em mim" é o mesmo que dizer "arremessou a lancheira na minha direção".

Rumar também se usa de outras formas... "rumô a cabeça na parede" é o mesmo que bater a cabeça, "rumô o saco no chão" é equivalente a jogar o saco no chão, "vou rumá a mão no seu focinho" é o mesmo que ameaçar dar um tapa na cara. Mas nada, absolutamente nada se compara a "rumá-la porra"!

"Rumá-la porra" - que tem como sinônimo "picá-la porra" - expressa, com toda a força do baiano, a sua vontade de meter a porrada em alguém! Ou de pegar o primeiro objeto pontiagudo, perfurante ou cortante que achar pela frente e ir com tudo na direção do seu opositor! Quando a mãe vai rumar a porra no filho, ela vai cobrir ele de porrada! Quando o vizinho vai rumar a porra no outro, é bom ficar atento. Ele pode estar armado! Enfim, quando a situação parece incontrolável, ruma a porra que tudo se resolve!

Mas cuidado! Não vá sair rumano a porra em qualquer um! Se perceber que está repetindo muito esta ação ou usando muito essa frase pra ameaçar o povo na rua, segure seu tchan! Ruma um copo de maracujina goela abaixo ou ruma a cara no freezer, que é sempre bom!

domingo, 9 de novembro de 2008

Com certeza!

Nada me incomodava mais do que assistir ou ouvir a entrevistas de meus conterrâneos no rádio ou na TV. A incrível mania de todo soteropolitano responder a todas as perguntas dos repórteres com um sonoro "com certeeeeza!" me fazia arrancar os cabelos.

Claro que os repórteres daqui já davam sua contribuição para a merda, indo de encontro às boas regrinhas do jornalismo ao fazerem perguntas daquelas que exigem como resposta um "sim" ou "não". Aí era uma beleza para o(a) abestalhado(a) largar o famoso "com certeeeezaaa!". Argh! Como aquilo me dava raiva...

Mas a vida é uma caixinha de surpresas. O mundo dá voltas. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Ah, sim: casa de ferreiro, espeto de pau.

Certo dia ensolarado, a pessoa que vos escreve estas mal traçadas linhas estava a comprar ingressos para um jogo de futebol. Tinha ido ao local que vendia os bilhetes junto com um amigo que, por sinal, já tinha ouvido muito as minhas críticas sobre o tal "com certeeezaa".

Foi quando me virei, após receber os dois ingressos das mãos do vendedor, e me deparei com um repórter da TV Bahia - não me lembro qual deles. Bom... mantendo a qualidade das perguntas de seus colegas de trabalho, o maldito me soltou a peteca: "Seu time vai ganhar hoje?".

- COM CERTEEEZAAA! Duuhhhhh (esse "duuuhh" é igual àquele grunido que o Homer Simpson solta quando fala uma merda).

Putaqueopariu! Maldito repórter de merda! Eu disse "com certeeezaa"!!! Em frente às câmeras! Ahhhhhhh

Pois é... TODO abestalhado de Salvador (assim como eu), quando entrevistado por um repórter imbecil de Salvador, seja na TV ou no rádio, responde "com certeeeza".

Meu colega me abusou (encheu meu saco) até chegarmos ao nosso prédio (local onde se mora, geralmente um edifício de uso residencial).

Nunca mais falei mal de ninguém ao assistir ou ouvir entrevistas de meus queridos conterrâneos. Como acabei me tornando jornalista mais tarde, nem cogito fazer perguntas do tipo que exigem como resposta um "com certeeeza" ou "não". Duuuuhhhhh!!

Onde guardaram o rê?

Não sei há quanto tempo estreou o filme Ó Paí Ó, mas eu só consegui assistir pela primeira vez na semana passada, dias antes de estrear a série na Globo. Até hoje eu não sei porque demorei tanto mas, enfim, xá pá lá! O filme continua atualíssimo!

Ontem eu resolvi assistir de novo, com o nosso Autor (não sei se já falei aqui mas esse blog nasceu de longas conversas sobre o filme!). Acho que se tivéssemos assistido com um bloco de papel e uma caneta na mão, teríamos posts aqui por mais uns 6 meses! É muito material porque, na Bahia, a galera fala exatamente daquele jeito! Pode ser que a gente encontre quem use menos gírias, quem "cante" menos ou quem fale um português mais global (global de Rede Globo, deixemos claro!) mas, de um jeito ou de outro, Ó Paí Ó traduz a realidade do que se fala nas ruas daquela terra.

Mas vamos deixar as prosopopéias de lado e colocar a mão na massa! Temos que começar a gastar logo essas informações porque eu já tô na bruxa! E vamos começar com uma coisa sutil que não se percebe no filme e que ainda não foi mencionada aqui: o esquecimento da letra (ou erre, se você preferir). Baiano não fala o r, repare! É um tal "Ségio", "sovete", "ceveja", "puquê", "ventiladô", "ceteza" e etc., não tem mais fim! Não sei se é preguiça ou se é do dialeto mesmo, ainda não achei a explicação!

E ninguém gosta de ser corrigido quando fala errado! Tenho uma amiga que fala assim e quando eu pergunto "Ô, véi, cadê o rê?" ela me responde indignada "Ó, rapaz, num venha com sua onda de falá igual carioca não, vú?!". Realmente, a indignação faz sentido, estou "ofendendo" a língua dela! Acho até que eu é que tenho que me adaptar e falar igual, para entrar no clima da baianidade de uma vez por todas!

No baianês, também existe o "vú" - notou no exemplo aí em cima? é a abreviação de uma palavra que já é pequena, o viu. Sabe como é, né? Acho que não é preguiça não, pelo contrário! É que esse lance de falar tudo explicadinho é uma perda de tempo danada! Se pra abreviar... A gente abrevia, vú?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

De maré!

O blog tá morgado - do baianês, sem ânimo, sem pique, cansado, desmotivado... O QUE? Desmotivado??? Porra nenhuma!!! Esse blog é retado, velho, ninguém quebra a guia dele não!

Alguns dias de maresia foram bons para deixar nossos leitores na instiga, querendo mais e mais posts! E foram melhores ainda para essa Autora que vos escreve, que reuniu algumas palavrinhas bem baianas para citar aqui!

E para recomeçar, vamos focar nessa tal de MARESIA que eu falei aí em cima. Eu vivo de maresia! Sabe o que é isso? É coisa de quem tá de le-seeeeeeeeeeira, de quem tem pre-guiiiiiiiiiiiiiiiça, de quem tá com uma mo-leeeeeeeeeeeza... É a mais baiana de todas as palavras, com certeza! Se a maresia for muito grande e você não quiser nem pronunciar a palavra toda, pode dizer que tá "de maré"! Todo mundo na Bahia vai entender.

Maresia também é aquela brisa que vem do mar, que estraga os eletro-eletrônicos, corrói os metais e acaba com tudo! Não sei quem foi o baiano que associou uma coisa com a outra mas, se pensarmos bem, isso deve ter começado com algum pescador de le-seeeeeeeeeeeira, na beira do mar... Os colegas devem ter dito que tava enferrujado, de maresia (me senti Cid Teixeira agora!)!

Outro dia desses, aprendi com nosso Autor que maresia também se chama "boréstia". Na moral, desconheço totalmente essa daí, prefiro nem comentar! Prefiro dizer que maresia é igual a banzo! Aí eu sei o significado direitinho. Banzo era uma doença que os escravos tinham, que os deixavam apáticos, abatidos, moles. Virou ironia, como tudo que acontece naquela terra. "Quié, rapaz, que moleza é essa? Tá de banzo, é?!".

Captou o espírito da coisa? Pois é... Eu captei demais! Não sei se é pelo adiantado da hora, mas me bateu uma maresia da porra aqui agora... Ô, velho, na moral! Depois eu escrevo mais, viu?!

domingo, 2 de novembro de 2008

Eu bulo, tu boles, ele bole...!

Eu morava no Rio de Janeiro em 1992. Foi a primeira vez que deixei Salvador para morar em outra cidade. E foi lá que percebi o quanto é difícil entender 80% do que um nativo da capital baiana fala. Isso se o cara for daqueles que exploram ao máximo o vocabulário baianês e, ainda por cima, falar rápido.

Muitas vezes tive que decifrar o que eu mesmo dizia. A primeira vez foi quando Geraldo, um grande amigo que fiz na escola, estava lá em casa. Quando ele se meteu a mexer em algo que não lembro o que era, mas não devia naquela hora, eu disse: "Não bula nessa porra não, rapaz". - Hein? não bula? O que é isso, moleque?, respondeu o Geraldo (isso mesmo.. "o" Geraldo.. aqui a gente não usa esse artigo não, viu).

- Ora... não bula... to dizendo pra você não bulir, seu sacana.

Foi aí que percebi... "não bula"... "não bulir"... rapaz.... que verbo escroto é esse? Quando expliquei a Geraldo que era pra ele não mexer, o cara se embolou de rir. E ainda me fez conjugar o verbo. O fiz com a maior calma didática. "Eu bulo, tu boles, ele bole, nós bulimos, vós buleis, eles bolem". Esses cariocas não estudam não, é? Bulir é mexer!

Cortei a brincadeira de Geraldo e peguei a bola de futebol. Morava no Leme e costumava bater uma bolinha na praia todos os dias, depois da escola. "Velho, deixe de onda.... Vamos bater esse baba na praia".

- Bater o que, moleque? Repete aí...
- Ihhhhhh, colé rapaz! Bater o baba, porra. Jogar bola, miséra...
- hahahahahahahah

Geraldo tava afim de me sacanear mesmo. Flamenguista sacana. Ainda bem que esse ano meu Vitória ganhou no Maracanã e empatou no Barradão. Me deve uma, rei!

Expliquei que a gente ia jogar "uma pelada", no bom carioquês. E até li algo sobre a origem do baba, anos depois. Parece que a turma sem muita grana de Salvador fazia bolas revestidas com baba de boi, para dar consistência à coisa. Como a baba rolava solta, ficou a expressão "bater o baba". Eca!

Porra é essa, véi?!

"É vem a porra"...

Porra em Salvador é vírgula, já disse. Tudo é porra. Mas não se assuste. Ninguém está zangado. É porque essa porra tem mil e uma utilidades para um autêntico soteropolitano. Impossível falar de todas, mas a gente pode levantar as mais conhecidas (ou as que eu lembrar, lógico... minha memória é uma porra).

Primeira coisa. Quando um bom baiano xingar pra você, ou até xingar você, observe se ele está com cara de retado ou não, antes de tentar socá-lo. Parece loucura, mas ele pode lhe dizer "diga seu sacana, seu viado, você é uma miséria mesmo, né seu corno?". Sabe o que significa? "Gosto muito de você! Meu velho, você é o meu melhor amigo".

Então, já deu pra perceber que palavrão, aqui, é também uma forma de demonstrar carinho. Claro que se o Vitória ou o Baêa perderem, e você tirar sarro, essas palavrinhas terão outra conotação. E cuidado se o cabra for daqueles que joga capoeira no Mercado Modelo. Aí você se fudeu.

"Da porra". O que seria algo da porra? Em Salvador é algo muito bom! Exemplo. "Rapaz, comprei um carro da porra". Isso não quer dizer que o cara comprou o carro da ex-mulher ou da ex-sogra. Ou que foi na "feira do rato" e o carrinho veio bichado (fudido). Simplesmente ele comprou uma máquina daquelas!

O porra também pode servir de interjeição. "êêê la porra!". Significa "que maravilha!". Há também como simplesmente fazer passar a raiva. Quando o cara diz "essa porra!" já abreviada para o atual "sa porra", ele quer dizer "que merda!".

A porra é tão rica em significados que, sozinha, a depender da entonação, pode dizer muita coisa. "Poooooooooooorraaa" pode ser "que liiindoooo" ou "que bostaaaa". Aí depende do contexto da conversa.

Dia 9/11 estarei no Barradão para ver Vitória x Atlético Mineiro. Alguns amigos estarão no Jóia da Princesa, no dia 7/11, pra ver Bahia x Brasiliense. Se sair gol de nossos times? "Gooooool, porraaaaaa" (não há um torcedor baiano que não solte o porra depois do gol). E, claro, não vão faltar o "bora Vitóra, minha poorraaa!" e "bora Baêa minha porraaaa!". Isso quer dizer, "vamos lá, meu timão!!!".

Famoso também é o "que porra é essa, véi (velho)?!". Geralmente dizem isso quando descobrem algo inusitado de sua pessoa. Digamos que você foi visto com a boca na botija. Numa situação constrangedora. Aí cabe perfeitamente o "porra é essa, véi?!". Significa que o cara está surpreso, já sabe da porra toda e você terá que explicar o que aconteceu. É bom que se economiza palavras. Se larga o "porra é essa, véi?!", dá-se um gole na cerveja e você que relate todo o caso. Serve também como reprovação. Você diz que acha o Rubinho Barrichello um grande piloto e o cara arregala o olho: "Porra é essa, véi!".

Porra... cansei de tanto porra.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E aí, você já deu um zig?

Calma, velho, um zig não é nada de obsceno! Mas pode significar várias coisas muito parecidas. Quer aprender a dar um zig? Então preste atenção ao significado da palavra.

Dar um zig é simples e fácil. Marque com seus amigos, com seu gato/gata, seus familiares, enfim, marque de encontrar qualquer pessoa em um lugar - e não vá! Ou então marque com alguém e desapareça do lugar (tem o mesmo efeito)! Ficou com um carinha na festa e percebeu que era barril? Fala que vai comprar uma água e não volta nunca mais! Pediu para te avisarem na hora de sair e não quer ir? Deixe o telefone tocar. Tá vendo? A coisa mais simples do mundo é dar um zig!

O zig é tão simples que, para ele, eu descobri até sinônimos. Em Pernambuco, por exemplo, "dar um zig" é o mesmo que "dar um pitú". Um amigo mineiro, mais elegante, disse que dar o zig é o mesmo que "sair à francesa". Prometo que vou pesquisar outros sinônimos - se não me derem o zig na resposta, claro!

Já dei vários zigs, assumo! Quem nunca o fez? É coisa de quem não sabe dizer "não, porque não e pronto", sem justificativa, sem razão ou sem argumento! Ok, em alguns casos é coisa de quem encontrou opção melhor e resolveu trocar sem avisar! hehehehe... Afinal, minha gente, o zig faz parte do direito de ir e vir!

Hum... Acabo de concluir que o zig foi legitimado pela nossa Constituição!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Meu Rei não existe!

Morando em outro Estado, nada me incomoda mais do que quando, ao afirmar que sou baiana, alguém me replica "Baiana? Ô, meu rei!"! Putz... de onde saiu esse pronome? Nunca ouvi ninguém falar "meu rei", e muito menos "minha rainha", como já inventaram! Rei é apenas e somente Rei!

Eu sempre explico, pacientemente, que não existe isso, sempre dou exemplos, mas não adianta! O povo não tira o "meu rei" da cabeça! Já pensei em fazer uma camiseta com o slogan "meu rei não existe!" ou em imprimir a minha explicação em um folheto, para distribuir e não ter que explicar tudo de novo. Mas não quero perder meu tempo com isso, quero que as pessoas se eduquem, nem que seja necessário fazer uma campanha em todo o país, tipo "vamos separar o 'meu' do 'rei'!!!".

Tenho certeza quase absoluta de que isso é culpa do incompetente profissional da Rede Globo que foi à Bahia colher expressões populares para alguma novela. Essa criatura, e talvez mais algum outro publicitário incompetente, que fez alguma campanha falada em baianês, não entenderam NADA e acabaram disseminando de forma equivocada um dos vocativos mais utilizados na Bahia!

Lá, a gente fala "E aí, rei, colé?!", ou "Vamo nessa, rei!", ou ainda "Ó, rei, vou lhe quebrar esse galho...". Se quiser, eu crio um diálogo inteiro aqui provando que não tem meu, nem seu, nem nosso rei! Até tentei criar aqui alguma frase com o pronome, para ver se eu tô errada, mas não sai, rei! Não fica nem bonito!!! E tem mais! No baianês, não existe gênero! Rei, bróder, velho, são todos substantivos comum de dois, ou seja, atendem ao masculino e ao feminino. Portanto, esse lance de rainha aí não tem nada a ver!

Aprenderam? Pois aprendam mais uma coisa, só pra finalizar: Baiano não perde tempo com sofisticações, muito pelo contrário! E, cá entre nós, que feio seria falar rainha, girl (guél, em baianês) e velha!!! Velha chega a ser ofensivo!!!! Ó, se alguém me chamar de velha eu vou me retar, viu?! Na moral...

Oxente, rapaz! Lá ele!

Baiano é bicho escroto. Soteropolitano ainda mais. Cariocas, os famosos malandros, tremei!

Se as brincadeiras com rima já movimentam o malicioso dialeto praticado na velha Salvador, imagine as perguntas que puxam respostas de duplo sentido? Quando você menos espera, acaba caindo em uma – Epa, lá ele!

Me saí dessa com habilidade, pois usei um antídoto infalível: o "Lá ele!" Se você está em Salvador, é só largar um "lá ele" que estará a salvo. Por quê? Quem cai, geralmente cai sentado em algo e isso é esparro (algo perigoso)...

A gente (às vezes isso soa como ‘arrente’, não estranhe) utiliza o recurso do “lá ele” pra dizer que outro otário cairia em nosso lugar. Algo do tipo: "Ele lá que caiu e não eu!”. Mas, como resposta, sempre acaba vindo de seu oponente um “aooooondeee?”. Esse outro significa “onde você viu isso, seu sacana?”. No final das contas a peteca pula de mão em mão e todo mundo se salva, ficando de cabra macho! E as meninas de santa.

“Quem é Mário?” – “Ora, ora... aquele que lhe carcou atrás do armário”. – “Oxente, rapaz? Lá ele!” A coisa funciona mais ou menos nesse diapasão. Tem até a forma mais direta: - "Onde eu coloco isso aqui?" - "Lá nele" - responde o mais esperto.

Outra função interessante para o “lá ele” é substituir nomes feios. Palavrões, se é que vocês me entendem (o que baiano adora. Aqui, porra é vírgula). Olhe quanta utilidade tem essas coisas que os malucos inventam em Salvador. Rapaz, isso que é cultura!

Mas aí o “lá ele” geralmente assume a forma feminina do “lá ela”! Isso porque a maioria dos palavrões mais pesados é feminina (lógico! Com elas ninguém pode! Por que você acha que nome de furacão é tudo de mulher?).

Exemplo: Tem nêgo que adora soltar um “desgraçaaaa” (afimaria, você disse aí, né?). Pois bem. A maioria da turma que não suporta este palavrete que costuma aliviar a alma dos mais desesperados – aqueles que estão na bruxa – abusam do “lá ela” para não pecar:

“Joãozinho chegou aqui, na bruxa, dizendo 'lá ela' na maior altura. Avemaria! Creimdeuspai, Deuzépai!”. É comum conferir essa variação do “lá ela” da boca de religiosos.

Mas, o mais engraçado foi o que as meninas inventaram para chamar a própria bacurinha. Isso mesmo! Já tá dando risada? Tem umas meninotas de Salvador que, para evitar o nome próprio mais conhecido daquilo, usam o “lá ela”.

- “Menina........ o carinha estava tão doido que, quando a gente estava naquele amasso, passou a mão em minha ‘lá ela’”.... Meu Deus... onde isso vai parar?

O “Lá ele” e suas variações também já fizeram tanta fama, e ajudaram tanta gente na Boa Terra, que viraram nome de livro! É sério! Procure por “Lá ele – o esparro a Bahia”, de João Jorge Amado. Tive a oportunidade de bisoiar algumas páginas, que oferecem uma revisão dos maiores esparros, aqueles que exigem 'de com força' um bom "lá ele!". Ô mo pai...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pense num absurdo! Na Bahia há precedentes!

Essa frase é de Octávio Mangabeira, que foi governador do Estado muitos e muitos anos antes de eu nascer! Mas eu sempre me pego pensando em como ele estaria se sentindo se visse como a terra dele progrediu! Tanto que hoje há estudos antropológicos sobre o povo baiano! É, tá pensando? Pra entender essa galera é preciso muita ciência, rapaz!

O que eu não sei é se já realizaram estudos sobre a língua que se fala na Bahia. Volta e meia eu preciso saber de onde vem alguma coisa mas acho que nem Dona Canô poderia explicar! Acho que Cid Teixeira nunca vai descobrir! Mas me proponho a fazer algumas tentativas de vez em quando!

Vamos ver um exemplo, ou melhor, dois: "é vem" e "é vai". Sabe o que significam? Faz alguma idéia? É facinho, basta trocar o "é" por "lá" e está feita a tradução, com a pequena sutileza de que o "é vai" não se usa só quando a pessoa vai, mas também quando a pessoa vem! Entendeu? É simples, coloca numa frase! "É vem Judenilson com essas brincadêra besta!" ou "É vai esse minino pertubá!" - não, não é erro de grafia, baiano fala assim mesmo! Mas isso é assunto para um novo post!

"É vem" e "É vai" também funcionam sozinhos, como interjeição. Por exemplo, se você está sentado e alguém começa a se aproximar com uma conversinha mole, você pode pensar "é vem!". Ou se você está numa festa e aquele amigo mala começa a se exibir depois de tomar uns goró, você pode reclamar "é vai!". Em ambos os casos, se quiser enfatizar, pode complementar com um sonoro " essa miséra" e vai ter o mesmo efeito!!

Agora eu queria entender como alguém trocou o "lá" por "é" se eles não tem nada a ver, nem a mesma função gramatical! Quem foi o assassino da língua portuguesa a cometer esse crime e quem foram os seus primeiros cúmplices, que acobertaram essa tragédia? Bom, hoje nem é mais tragédia, com o tempo a expressão subiu de categoria e agora isso é peculiaridade!

Essa é uma dúvida que vou cultivar eternamente, assim como tantas outras que, mais cedo ou mais tarde, eu vou mencionar aqui. Mas com certeza, assim como eu, você aí já deve estar entendendo por que a Bahia é a terra dos mistérios, hein?!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tá na bruxa, negão?!


Desde que saí da Bahia, nada me faz tanta falta quanto o bom e velho baianês. Nem o acarajé de Do Carmo, no Brotascenter, ou sorvete da Perini me fazem sentir tanta saudade daquela terra quanto o próprio dialeto baiano, que a gente escuta na rua, no elevador, na rádio, em qualquer lugar!

Salvador está impregnada por um idioma paralelo ao português, rapaz! Vá passear em Angola e, com certeza, vai ser mais fácil entender o português que eles usam lá! A cada dia surgem termos e expressões novos, para facilitar a compreensão das coisas. E na Bahia, ainda há um agravante: a coisa evolui muito rápido, na velocidade de um pagode do Psirico! É tão rápido que, se você passar muito tempo fora, corre o risco de precisar fazer, no mínimo, um cursinho de atualização!

Na última vez que estive lá, por exemplo, aprendi o "na bruxa". Tá na bruxa? Vá saber! Foi difícil descobrir se era uma coisa boa ou ruim! "Tô na bruxa pra ver o jogo!!"... Pô, e aí, tá querendo ver ou não?! "Fulano não sai de tal lugar... tá na bruxa!". Ele tá lá porque quer ou foi obrigado? Aí, depois de assimilar a expressão no inconsciente, a gente descobre que quando a pessoa tá na bruxa, ela tá no desespero, tá abafada, tá ansiosa, tá agoniada... Ah! Tá na bruxa e pronto!!

Eu tava na bruxa pra escrever um texto pra esse blog, até que pensei "Pô, tô tão na bruxa que vou escrever logo sobre essa zorra!". Agora tô na bruxa pra voltar pra Salvador, tô na bruxa comer um acarajé que me prometeram... Só não descobri ainda o que acontece quando o problema acaba. A bruxa morre? A pessoa sai da bruxa? A bruxa acaba? Ainda não sei bem como lidar com esse substantivo! Calma, tô aprendendo...

E como tudo na Bahia, logo logo vão criar um verbo e um adjetivo, quer apostar quanto? Mas, antes disso, já aconteceu o principal, a maior prova de que o "na bruxa" veio pra ficar: o termo já virou música - mais um clássico, se preparem! "Tá na bruxa, negão! Tá na bruxa, negão!" - é ou não é uma pérola, velho?!

É por isso que eu digo: esse baianês é apaixonante!

Tudo é grande em Itives

Desafio outras cidades do Brasil a provarem que têm um dialeto popular mais engraçado que Salvador! Já comecei na dividida, mas é sério... Se tiver, me mudo pra lá agora mesmo. Afinal, o que importa é se divertir.

Até para quem nasceu, mora ou passa uns tempos por aqui, é uma novidade a cada dia. E são pérolas que você aprende a soltar pra dar risada de si mesmo. É cômico demais!

Você já veio à Bahia? Já passou um carnaval em Salvador? Já percebeu que "meu rei" é coisa do passado, né? As coisas avançaram por aqui, meu pai. Afinal, a criatividade rola solta entre as cidades Baixa e Alta com um Elevador Lacerda no meio.

Um bom exemplo é o fato de que boa parte da população, a maioria homens que não têm muito o que fazer, costuma brincar com rimas. A idéia é sacanear o amigo que despreza as consequências de soltar algo terminado em "u", "ão" e variações (a maioria das mulheres odeia essa brincadeira).

Não estranhe ao ouvir um sacana (sim, todo mundo aqui tem esse apelido, até você, seu sacana) dizer "Acabei de chegar de Itives, aquela cidade de São Paulo onde tudo é grande". O "ives" é o antídoto. Se você não usar, vai dizer "cheguei de Itu" e ouvir de lá um "iiiiiiiiiihhhhh", que na verdade significa "vai tomar no c...".

Parece meio bobo - ainda mais para as mulheres - e realmente é muito bobo. Mas a graça não está em dizer isso (às vezes sim). E sim em perceber como a coisa está séria pelas ruas de Salvador!

Exemplo? Dia desses eu estava pronto para fazer o pedido numa lanchonete. Antes de mim, um sujeito com cara de intelectual e poucos amigos fez o seu. "O que tem aí para lanchar?".

Qual não foi minha surpresa ao ouvir do figura, funcionário da birosca, com seu bonezinho com a marca da lanchonete e de bigodinho feito. "Patrão, tem coxinha, quibe, hot dog e BAURIVES".

Velho... (você pode não ser velho, mas é um pronome de tratamento aqui pra todo mundo, meu velho) tentei segurar a risada, sem acreditar que o cara já tinha incorporado aquilo à sua maneira de responder aos clientes, na maior cara de pau.

Mas aí veio a sequência (o cliente enfezou ainda mais a cara, de poucos amigos, mostrando que tinha desaprovado totalmente o atendimento, e isso me deu mais vontade de rir):

"Rum... e pra beber?". Aí fudeu: "Patrão, tem suco de abacaxi, manga, laranja e CAJIVES". Eu não aguentei e larguei a gargalhada. Me afastei um pouco, lógico. O cliente continuou com cara de bunda, mas pagou o lanche. E o carinha já estava pronto para vender outros "Baurives" para a clientela, se divertindo com suas próprias piadas.

Pelo menos a turma aqui se diverte até no dia-a-dia corrido...

Em breve, histórias de buzives.